Vinte e nove quilômetros. Faltavam apenas três dias para eu chegar a Roma e esta seria a última longa etapa, pois as próximas duas eram de menos de vinte quilômetros cada.
Eu tinha em mente que, terminando este dia, teria praticamente terminado a peregrinação, pois não haveria mais grandes desafios pela frente.
Monterotondo, onde eu chegaria no final do dia, já fica na “região metropolitana de Roma”, por assim dizer, então, esta também seria a última trilha mais inserida na natureza, em meio a montanhas, vales ou parques nacionais.
Parti já com saudades da Gabriela que caminhava havia vinte e oito dias, praticamente em silêncio. Eu tinha me miscigenado com o caminhar. Minha rotina era acordar, colocar a mochila nas costas e simplesmente seguir para a próxima parada, mas eu começava a lidar com a perspectiva de que logo essa jornada terminaria.
Todos esses pensamentos se intensificaram quando, no meio da longa caminhada, cruzei com um peregrino que fazia a Via Francigena, outra rota de peregrinação que passa por aquelas trilhas e vai até Roma. Ele estava sentado numa pedra descansando e me perguntou se eu também fazia o mesmo percurso que ele.
“Não, estou percorrendo a Via di Francesco. Venho de Florença e estou a caminho de Roma”.
“De Florença? Você vem de longe! Então, já está quase terminando!”, observou.
Sim, estava.
A validação dele me impactou profundamente e desabei a chorar. Por alguma razão, ouvir de outra pessoa que minha saga estava chegando ao fim me fez lembrar de tudo o que havia passado para chegar até ali.
Do medo seguido do maravilhamento dos primeiros dias, da exaustão física da primeira semana, das pessoas que conheci pelo caminho, das quase trinta cidades por onde passei, dos anfitriões que me receberam em cada etapa, das minhas refeições improvisadas com latinhas de lentilha, biscoitos de arroz e frutas no meio das trilhas. Tudo isso acabaria em três dias e eu já estava com saudades da vida peregrina.
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