Acordei e o céu estava nublado. Será que choveria novamente?
A caminhada começava já no topo da montanha e, antes mesmo de começar a descer, fiz uma pausa diante da surpreendente paisagem. Fiquei encantada com a densa neblina que cobria a copa das árvores. Logo eu, que sempre gostei de dias ensolarados, aprendia com o Caminho a apreciar a beleza do céu nublado. Como as nuvens são agradáveis após tantos dias de sol.
Essa reflexão me faz lembrar da sabedoria dos contrastes, já que somente conseguimos perceber qualquer coisa graças a existência de outra. Como saberíamos o que é quente se não fosse o frio? A alegria se não fosse a tristeza? Quando enxergamos a vida por essa perspectiva, tudo fica mais leve, uma verdadeira brincadeira de percepções!
Outubro tinha começado e eu seguia na contagem regressiva para a minha chegada. Eu tinha percebido fazia pouco tempo que chegaria a Roma justo no dia de São Francisco, celebrado em 4 de outubro, data do aniversário de sua morte.
A sincronia não foi planejada propositalmente, simplesmente aconteceu assim. Eu inclusive mexi no meu roteiro algumas vezes e pulei uma etapa, chegando a acreditar que terminaria a peregrinação no dia 3. Quando eu percebi que, apesar de tudo, a chegada aconteceria justo no dia do santo, celebrei. Era um sinal positivo, certamente. Eu estava no Caminho certo, não havia dúvidas.
Naquele dia, porém, a meta era percorrer os 22 quilômetros daquela etapa e chegar a Ponticelli. Acabou não chovendo e o céu abriu ainda pela manhã, confirmando a informação que aprendi desde pequena, quando acordava ansiosa para saber se o dia seria ensolarado e diziam: quando tem neblina é porque fará sol. E não é que funciona mesmo?
Ponticelli é um “piccolo” vilarejo. Nesse dia, após me acomodar na casa onde reservei um confortável quarto para mim, fui até uma venda comprar alimentos para a janta. Já esqueci minha pochete com meu passaporte e todo o dinheiro que tinha para o resto da viagem. Me dei conta disso umas duas horas depois. Retornei desesperada até a venda e sequer precisei perguntar qualquer coisa para ninguém. Lá estava a minha pochete, exatamente no mesmo lugar que eu havia deixado. Amém, São Francisco!
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