Após alguns dias de céu nublado e garoas, o sol voltou a dar as caras. Junto com ele, vieram também novos companheiros de caminhada.
Eu encarava uma íngreme subida numa vilazinha antes de pegar a trilha na montanha quando avistei um rapaz e uma moça com mochila e bastões à minha frente. Imaginei que estivessem fazendo apenas aquele trecho, pois ainda não tinha cruzado com eles em nenhum momento até ali. Não consegui alcançá-los e logo sumiram da minha vista.
Algumas horas depois, cruzei com outros dois peregrinos, um pai e uma filha australianos com quem eu já havia me encontrado algumas vezes antes, mas havíamos conversado pouco.
Resolvi pedir para a filha fazer uma foto minha, pois eu praticamente só tinha selfies. Embalamos uma conversa sobre o que nos levara ao caminho e descobri que ela e seu pai gostavam muito de caminhadas na natureza e escolheram fazer a trilha na Itália juntos, sem qualquer motivo religioso ou espiritual.
Quando terminasse a peregrinação, ela se encontraria com seu marido na Califórnia para uma segunda parte de suas férias. Contou-me que trabalhava num zoológico há muitos anos e planejava dar uma guinada em sua carreira quando voltasse para a Austrália.
Um tempo depois, alcançamos o rapaz que eu avistara antes, um alemão chamado Tobias. Linda, a moça que estava com ele, tinha ficado para trás. Era sua amiga, uma irlandesa que ele conheceu no Caminho de Santiago no ano anterior. Combinaram de fazer a Via di Francesco juntos e garantiram que as trilhas eram muito mais desafiadoras do que as da famosa rota espanhola.
Meus companheiros aceleraram meu passo e acabei deixando de visitar um importante ponto daquela trilha, o Faggio di San Francesco, árvore onde o santo tomou abrigo durante uma forte tempestade. Me arrependo até hoje por não ter desviado a rota para vê-la, mas estava animada com a conversa, algo raro de acontecer em toda a peregrinação. São escolhas do caminho. Um dia volto apenas para conhecer a árvore!
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