Pela primeira vez, tive contato com a água no meio do caminho. A trilha na região de Ceselli acompanha, em alguns momentos, um rio, o que elevou o meu estado de espírito. Eu estava com saudade do som das correntezas.
Também já fazia alguns dias que o tempo tinha virado. Nublava e garoava naquele dia, mas isso não impactou de nenhuma forma a minha admiração pela bela paisagem daquela trecho. Na verdade, acho que até a intensificou. Nada como a magia dos contrastes. Após tantos dias de sol e céu aberto, as nuvens cinzas tornam-se belas, misteriosas, admiráveis.
Foi uma caminhada branda e silenciosa, de contemplação da natureza que me cercava.
Depois de tantos dias caminhando comigo mesma, algo que passou a ser recorrente de eu perceber foram os tipos de pensamentos que rondavam a minha mente.
O que nos resta quando estamos quietos, conosco mesmo? Podemos cair no equívoco de focar a concentração em pensamentos do que desejamos para o futuro ou de memórias do passado.
Enquanto caminhamos sozinhos, podemos pensar naquilo que teoricamente nos falta no momento presente: uma companhia? Uma situação de vida que desejamos? Um descanso par as pernas? A chegada ao albergue? A hora do almoço? O que faremos quando toda a caminhada acabar?
Também é corriqueiro refletirmos sobre o passado. A memória nos leva para longe, em cenas que jamais voltarão a se repetir: algumas delas, dolorosas.
Muitas vezes, esperamos que os outros preencham algo que falta em nós. Acreditamos que uma companhia irá, de certa forma, irá tirar de nós a angústia do silêncio.
Enfim, após tantos dias de caminhada sozinha, comecei a sentir o acalmar de todos esses tipos de pensamento e abraçar com cada vez mais integridade a minha própria companhia no único momento que eu tinha: o presente.
Enfim, eu estava ali, caminhando há 26 dias, sozinha. E cada vez mais conectada comigo e com a natureza ao meu redor.
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