Havia uma barreira no meio do caminho. Na saída da comuna de Spoleto a caminho do pequeno vilarejo de Ceselli, a rota oficial da Via di Francesco indica que os peregrinos passem por uma famosa ponte no centro histórico de Spoleto, a “Ponti delle Torri”.
Lá estava eu, seguindo religiosamente a trilha do aplicativo de GPS quando, ao chegar na ponte, me deparo com bloqueios de passagem devido a obras. Eu já havia percorrido alguns cansativos quilômetros até lá e quis chorar quando notei que não poderia passar. E agora?
Imediatamente me lembrei de alguns avisos que os peregrinos postavam na comunidade no Facebook com alguns desvios de rotas. Acessei o link e lá encontrei o arquivo com o retorno do trecho. Precisei voltar o tudo o que já tinha feito e entrar na montanha por uma pequena trilha chamada Giro dei Condotti.
Foi uma grande volta mas, alguns quilômetros depois, já dentro da mata, fiquei feliz quando avistei a imponente ponte. Eu agora estava do outro lado.
Foi um dos trechos mais belos de toda a peregrinação. A vegetação era vívida e úmida. Senti certa similaridade com a nossa Mata Atlântica, com montanhas cobertas de volumosas árvores, vales e arranha céus. Devido à beleza da paisagem, o caminho flui levemente, apesar da garoa que me acompanhou por alguns momentos.
Já no final da trilha, fiz amizade com um pequeno burrinho que estava preso num terreno. Após tanto tempo caminhando sozinha, eu me emocionei fortemente ao vê-lo se aproximar de mim, querendo companhia. Fiz carinho nele por um bom tempo, que não queria de jeito nenhum que eu partisse. Mas eu precisava seguir.
No pequeno vilarejo de Ceselli, me hospedei num quartinho atrás de uma quadra, com chuveiro de água fria, a única acomodação que encontrei. Ao sentar do lado de fora para jantar minhas lentilhas e biscoitos de arroz, uma garotinha se aproximou em sua bicicleta com um prato de sopa quentinha e um pedaço de pão. Agradeci e jantei duas vezes. Foi o melhor jantar de toda a peregrinação, sem dúvida.
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