Acordei no nono dia de peregrinação desacostumadamente acompanhada, com a presença de outras duas peregrinas na casinha de campo em que dormimos, as italianas Daniella e Alina, com quem cruzei no caminho no dia anterior.
Assim que me viu, Daniella anunciou que não continuaria. Uma inflamação nos rins a obrigava a ir ao banheiro a todo momento. Ela e Alina saíram juntas, cada uma para um canto, mas demorei mais para partir.
Fazia uma linda manhã de sol, como todas até então, e fiz minha meditação sob uma árvore antes de tomar meu café da manhã: duas bananas, aveia, castanhas e frutas secas. Saí calmamente, deixando a chave no suporte ao lado da porta e fechando a porteira, como nos foi solicitado na tarde anterior.
A trilha deste dia era de impraticáveis 35 km, mas, por sorte, eu já estava 10 km adiantada, pois tínhamos avançado na véspera. Mesmo assim, cerca de 25 km ainda me esperavam, sendo que grande parte era numa subida de mais de mil metros até o Eremo di Montecasale, que foi doado a São Francisco em 1213.
Por sorte, no meio do caminho cruzei com Silvia, uma italiana de seus 25 anos, toda serelepe, que me puxou para ir mais rápido até o mosteiro. Lá, pude visitar a minúscula salinha onde o santo meditou recluso, além do quartinho que fora de Santo Antônio. Era incrível estar ali.
Deixamos o mosteiro por volta das 18h, mas ainda tínhamos mais 7 km de caminhada morro abaixo pela frente. Já escurecia e Silvia partiu sozinha, às pressas, pois dormiria num lugar que só permitia a entrada até as 19h30.
Fiquei a sós pensando no melhor trajeto quando um italiano que passeava com seu cão se aproximou: “Precisa de ajuda?”.
Perguntei qual era o melhor caminho para voltar e recebi a resposta dos deuses: “Estou indo para lá de carro, quer uma carona?”. No caminho, descobri que a casa onde dormiria ficava a três km do centro. Se tivesse ido a pé, seriam mais 10 km. Quem ousa dizer que não fui guiada nesse caminhar?
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