Dia 3 – 7 set 2022 – Consuma a Stia – 18 km

Acordei na manhã daquele terceiro dia de caminhada bastante esgotada. Meu corpo ainda estava se acostumando à rotina de caminhar várias horas por dia em meio à mata, com a pesada mochila nas costas. 

E eu ainda carregava o fardo de carregar um notebook, a maior insanidade que me propus a fazer. Sempre que me lembro disso, rio de mim mesma. Na maior aventura da minha vida até aquele momento, não consegui me livrar do peso do trabalho, literalmente.

Após o término da peregrinação, eu viajaria por mais 20 dias pela Europa, o que seria maravilhoso. Porém, para me permitir fazer isso, negociei comigo mesma que levaria o computador para trabalhar remotamente após concluir a Via di Francesco. O maior engano dessa decisão foi acreditar que os cerca de dois quilos a mais do laptop e de sua bateria não fariam diferença durante a caminhada.

Naquele terceiro dia, tudo parecia pesar uma tonelada. Meus pés, desacostumados com a rotina de trabalhar tanto dentro de uma bota, formavam bolhas e a unha do meu dedão do pé direito ameaçava soltar.

Para tornar a empreitada ainda mais desafiadora, era feriado em Consuma, de onde parti, e não havia nenhum lugar onde eu pudesse comprar frutas ou castanhas para comer durante a trilha. 

Sou vegana e achar algo sem queijo, presunto ou salame é praticamente impossível nessas pequenas comunas italianas. Durante toda a peregrinação, sobrevivi de idas aos supermercados nas cidades maiores, garantido meus biscoitos de arroz, frutas e potinhos de lentilhas ou grão-de-bico em conserva.

A única coisa que estava aberta era um bar desses de estrada, onde me providenciaram um pedaço de pão puro que comi com alguns damascos que tinham sobrado na minha mochila nos dias anteriores. Quando soube que eu era vegana, o dono do bar também me deu uma laranja que tinha em sua cozinha, já que não tinha qualquer fruta para vender.

Os 18 quilômetros até Stia foram bem mais demorados do que os do primeiro dia. Com o corpo cansado e os pés doloridos das bolhas, caminhei bem mais lentamente. Nesse terceiro dia, eu sentia que não chegaria nunca. Um peregrino cruzou comigo no início da trilha e me ultrapassou tão rapidamente que invejei sua vitalidade. “Como ele é tão veloz?”, pensei.

Cheguei a Stia e encontrei alguns dos peregrinos da noite anterior na pequena praça da cidade. Quando tirei as meias, mostrei meu dedão para Charlotte, uma médica holandesa na faixa dos seus 50 e poucos anos com quem fizera amizade na noite anterior. “Ah, isso já aconteceu comigo e minha unha caiu depois de uns dias. Cubra com um pedaço de esparadrapo e continue a caminhar”. Ela me disse que, depois de fazer isso, a dor dela tinha passado. Isso parecia difícil de acreditar naquele momento, mas era a única opção que eu tinha. Providenciei meu curativo e foi descansar os pés para os 17 quilômetros do dia seguinte.

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