Eu não sabia o que era esgotamento físico até caminhar 34 quilômetros num mesmo dia, e em meio ao sobe e desce da trilha nas montanhas (chegando a subir 1,2 mil metros e, depois, descer outros 1,4 mil).
O trajeto de 38 kms de Gubbio a Valfabbrica é tido como “molto impegnativo” (muito desafiador) pelo site da Via di Francesco e, por isso, muitos peregrinos optam por dividir a etapa em dois dias, pernoitando num encantador eremo em San Pietro de Vigneto, uma vilazinha rural no meio da trilha.
Só que justo naquele domingo o eremo estava fechado para acolher uns estudantes que passavam um agradável final de semana no meio da natureza, ocupando todos os quartos.
A peregrina aqui, então, não teve outra opção senão seguir até Valfabbrica. Por sorte, após duas semanas de caminhada meu corpo já estava bastante adaptado.
Parti às 8h munida de uma inacreditável energia. Nunca havia caminhado tão rápido. Igual quando temos um trabalho com prazo apertado e somos surpreendentemente produtivos. Mas depois da pausa do almoço minha energia declinou. Já exausta após percorrer 25 kms, ainda faltavam 13.
Os quilômetros finais foram indescritivelmente tensos. Estava morta e acabada. Tudo doía, pés, pernas, joelhos, costas. Me arrependi horrores de estar ali. Quis chorar, mas nem pra isso tinha energia.
Ainda faltavam 6 kms pela rota oficial do Caminho, mas havia uma rodovia cruzando a trilha de terra que, pelo Google Maps, me deixaria na cidade em 2 kms. Não tive dúvidas. Pela primeira vez, saí da trilha e segui pela rodovia. Cheguei por volta das 18h, após dez horas de caminhada.
Depois do melhor banho da minha vida, desci de chinelos para o jantar dos peregrinos num restaurante local. Eu mancava com o corpo inteiro. Os joelhos não queriam dobrar, os pés se recusavam a dar passos. Cheguei e todos jantavam alegremente suas pastas com uma taça de vinho. Sentei com eles e brindei a maior saga da minha vida.
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