Neste dia, não caminhei. Foi o único trecho de toda a peregrinação em que isso aconteceu por motivo de força maior: um forte temporal com rajadas de vento. Autoridades locais alertavam para que ninguém pegasse estradas ou rodovias, avisos reforçados na comunidade de peregrinos.
A previsão já vinha da noite anterior e meus colegas peregrinos faziam planos de não caminhar. Traumatizada pela chuva de dois dias antes, Charlotte reservara um táxi para levá-la até o destino da próxima etapa, a comuna medieval de Gubbio, e me chamou para ir com ela, se quisesse.
Caminhar na chuva não tinha sido nada agradável para mim também, mas, ao mesmo tempo, pegar o táxi me parecia quebrar o espírito da peregrinação.
Conversei com Donato e ele me disse que também não caminharia. Pegaria um ônibus às 7h da manhã até Gubbio.
Refleti e, se os meus dois companheiros seriam prudentes, era melhor acompanhá-los. Não seria eu a única a caminhar sozinha debaixo de temporal e vento forte.
Perguntei a Charlotte se havia espaço para mais duas pessoas no seu táxi e combinamos de ir os três juntos na manhã seguinte.
Nos encontramos na praça principal e pegamos o táxi debaixo daqueles temporais que a gente se molha inteiro no minuto de abrir a porta do carro pra entrar. Mas no meio do caminho a chuva foi passando e chegamos a Gubbio debaixo de uma leve garoa.
Fiquei com a sensação de que poderia ter caminhado, mas mudei de ideia assim que saí para dar a volta na cidade e os ventos eram tão fortes que faziam voar até o guarda-chuva. Imagina se eu tivesse com a mochila na montanha?
Aproveitei para curtir Gubbio, a mais medieval de todas as cidades medievais até ali. Repleta de castelos, vielas, escadarias e torres.
Lá também tem uma imponente paróquia franciscana e a estátua de São Francisco com o lobo, que remete ao episódio em que ele domou o animal que atormentava a população da região. Com seu amor e ternura, fez um acordo com o lobo que, em troca de comida e carinho, nunca mais atacou ninguém.
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