Foram dez dias de caminhada com céu aberto até aqui, vislumbrando belíssimas paisagens ensolaradas das montanhas da cordilheira dos Apeninos italianos, por onde se passam as trilhas da Via di Francesco.
A previsão era de chuva a partir das 13h, mas não levei muito a sério, pois isso já tinha acontecido outras vezes e não chovera. Então, não fiz qualquer esforço para sair mais cedo e reduzir o tempo de uma possível caminhada embaixo d’água.
Deixei Citerna bastante tarde, por volta das 9h30, após meus alongamentos, meditação e um demorado café da manhã. O céu estava fechado, mas me sentia preparada se chovesse. Tinha capas para a mochila e para mim (blusa e calça) e minha bota era à prova d’água. Orgulhava-me por ser tão prevenida.
Eis que, dessa vez, a previsão foi certeira. Pouco depois das 13h, eu adentrava uma mata quando senti os primeiros pingos. Mal pensei em pegar as capas de “peregrina preparada” e a chuva já tinha aumentado a um nível das tempestades de verão de São Paulo.
Depois de três horas debaixo de chuva torrencial, descobri que nada adianta ter uma bota à prova d’água, pois a água entra por cima. Sentia um “ploft” na meia encharcada a cada pisada. A água também entrava pelos lados da capa da mochila. Comecei a sentir frio e tive que caminhar bem devagar pra não cair.
Cheguei a Città di Castello ainda embaixo de forte chuva e fui direto para o Monastero S. Cecilia, onde dormiria aquela noite. Ensopada, pendurei as minhas roupas pelos armários e janelas do quartinho, e logo alguém bateu na porta: era Silvia, a peregrina de alguns dias anteriores, que, descobri, dividiria o quarto comigo! Estava igualmente ensopada, claro.
Fomos jantar com uma amiga dela e com Donato, um padre de 31 que eu conhecera no Santuário de La Verna e também dormiria no mosteiro. Quando saímos para jantar, a chuva deu uma trégua e o sol do entardecer se despedia no céu, deixando aquela cidade medieval inteira cor de rosa.
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