“Vai, Gabriela, é só seguir a trilha do aplicativo, dar um passo atrás do outro e no final da tarde você chega lá”. Saí da frente da Basílica di Santa Croce, em Florença, por volta do meio dia daquele 5 de setembro de 2022. Eu estava bastante ansiosa em descobrir como era fazer uma peregrinação. Seriam aproximadamente 19 quilômetros de uma rota considerada fácil pelo livro que eu seguia.
A previsão era levar 5 horas até Pontassieve, a comuna da primeira etapa — acabei levando seis, pois parei para descansar no almoço (o da foto, que comprei num supermercado antes de partir).
Nunca tinha feito tal coisa em toda a minha vida e estava bastante atrapalhada naquele início — na verdade, não sei se melhorei nesse quesito depois. Tinha antecipado o início da caminhada em um dia após uma série de imprevistos, então, estava agitada por causa da alteração quando comecei a caminhar, às margens do famoso Rio Arno.
Eu ainda não sabia, mas o primeiro dia é realmente tranquilo. Quase sem inclinações, grande parte da trilha é ao redor do rio, que, ao se afastar de Florença, é margeado por verdes campos. Na segunda metade do percurso, passamos em meio a plantações de uvas até chegar a uma pequena trilha na mata que, por fim, chega a Pontassieve.
Dizem que a primeira semana de uma longa peregrinação é a mais difícil, pois o corpo ainda está se acostumando ao ritmo. Fazia muito sol e, além do cansaço e peso da mochila, enfrentei o medo inicial de estar caminhando sozinha no meio do mato na Itália e sendo guiada por um aplicativo.
Em determinada hora no meio do caminho, porém, ao pegar um trecho de rodovia, meu medo se misturou com uma imprevista sensação de liberdade: lá estava eu, me deslocando por quilômetros em outro país, com minhas próprias pernas. E tudo o que precisava estava na minha mochila.
Cheguei a Pontassieve por volta das 18h me sentindo a pessoa mais vitoriosa no universo. Enfim, eu era capaz. Quem consegue um dia, consegue um mês. E era só o primeiro de 30 dias.
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