Dizem que os primeiros dias de uma peregrinação são os mais difíceis, pois corpo e mente ainda estão se adaptando à realidade de caminhar por horas a fio. Meu pior dia, sem sombra de dúvidas, foi o quarto.
Após a unha do meu dedão ameaçar soltar no dia anterior, eu simplesmente não conseguia caminhar sem esquecer do meu pé.
Qualquer pedrinha que batia na ponta da bota causava uma dor insuportável, e como eu estava com as pernas cansadas e tinha bolhas nos pés, eu pisava torto e esbarrava em pedras o tempo todo.
As minhas costas reclamavam do peso da mochila (com o notebook) e a mente não ajudava. Tudo doía e eu só conseguia pensar que daquele jeito não daria conta de percorrer os 30 dias.
Era um dia ensolarado e mal consegui aproveitar as belas paisagens do Parque Nacional da Floresta de Casentino, local do percurso.
Em dado momento, um rebanho de ovelhas guiado por dois cachorros brincalhões me distraiu por alguns quilômetros. De tão graciosos, caminhar com eles quase me fez esquecer das dores. Mas pararam na próxima fazenda e tive que continuar sozinha.
Em seguida, um longo período de subida fez eu treinar minhas práticas meditativas. Procurei respirar contando de um até dez várias vezes, para evitar pensar na dor, mas acabei me desconcentrando.
Uma hora, dei um topão numa pedra e dei o berro mais alto de toda a minha vida. Parecia que eu estava sendo amputada. Chorei, quis parar de caminhar. Me senti sozinha em meio a um turbilhão de pensamentos negativos. O que eu estava fazendo ali, afinal?
Eis que, na hora de maior desespero, surgiram atrás de mim as duas alemãs que eu encontrara dois dias antes. Mãe e filha. Eu estava tão lenta que, mesmo tendo saído mais tarde, me alcançaram.
Caminhamos juntas o resto do percurso. Desabafei das dores e das bolhas. Elas também estavam mortas. Parece que morrer em companhia dói menos. Quando vi, estava na frente do Mosteiro de Camaldoli Village, pronta para tirar minhas botas e ter a noite mais revigorante de toda a minha vida.
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